quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O Robinson Cavalcanti que levo na memória

"E ele designou alguns para mestres"

Efésios 4.11
 
Por Alexandre Brasil Fonseca

Mais de 20 anos se passaram quando eu, saindo da adolescência, recebi Robinson Cavalcanti em minha casa. Não sei ao certo o porquê, nem pra quê ou como ele foi parar ali. Imagino que tenha relação com o meu envolvimento com a ABU. Lembro da minha mãe, que conheceu muita gente, mas que sempre se lembrava dessa visita em particular.
Comentava comigo sobre a simpatia dele, naquela época pastor e professor, e que sentado no sofá de nossa sala pediu um “digestivo” após o almoço. Também falava de seu jeito cativante e da conversa fácil e agradável que ele tinha.


Robinson teve relação direta com a opção que fiz por cursar ciências sociais. Lia e admirava algumas pessoas; e ao perceber que estas tinham formação em Ciências Sociais, me dei conta que este era o curso que eu deveria fazer. Robinson foi uma delas e a influência dele na minha vida se deu em diversos momentos e espaços. Lembro de como buscava ouvi-lo, das conversas, e depois das diferentes oportunidades que tivemos de estar juntos em eventos da ABU, MEP, FTL, CLADE ou ainda no comitê dos “Evangélicos Pró-Lula”.

Nessas andanças e encontros, lembro-me de uma época que Robinson vinha anualmente ao Rio de Janeiro para pregar numa igreja avivada, com manifestações que iam bem além do “neopentecostalismo erótico de esquerda” à que aludia. Aquele ambiente bem diferente não o afastava e cada ano ele retornava para compartilhar. Isso porque, de fato, ele cria num evangelho de libertação que tinha poder de libertar e transformar a sociedade. Mas ele também cria num evangelho de poder que era capaz de “curar dor de dente e nos afastar de vizinhos chatos”. Um evangelho integral que estava presente em nosso cotidiano e em nossa vida, com diversas formas de manifestações e com uma tremenda riqueza que vai muito além das amarras que teimamos em colocar.

Robinson assumiu posturas firmes e contundentes em diferentes momentos de sua vida, vivendo situações como a de seu desligamento da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil. Ele não hesitou em se posicionar, defender suas ideias e a disputar espaços. Isso o levou a assumir importante liderança entre os da Teologia da Missão Integral da Igreja e, mais recentemente, essa mesma postura aguerrida o afastou de muitos que no passado eram próximos e que discordaram de algumas posições e atitudes que ocorreram em torno das discussões sobre a “inclusividade ilimitada” e que redundaram nesse desvinculamento com a igreja brasileira e posterior filiação a Igreja Anglicana da América do Norte.

Robinson foi um desbravador em searas que muitos temiam navegar: política, sexualidade, inserção político-partidária, participação sindical, política e vida acadêmica, política eclesiástica... Ele tinha uma dedicação e desprendimento invejáveis. Estava presente e participava. Até bem recentemente era para ele uma obrigação a participação para além do tempo da sua fala em eventos que ia como preletor. Gostava de estar presente, de ouvir e perceber as outras vozes. Era muito centrado nele e no que defendia, mas tinha, no mínimo, a curiosidade do cientista social em relação ao outro. E, acima de tudo, tinha a sensibilidade — como excelente orador — de efetivamente interagir com os seus ouvintes.

Nos últimos anos, como Bispo, sua agenda e obrigações eram maiores e com isso ficava menos tempo do que gostaria nos eventos. Nunca sem manifestar sua insatisfação em “ter que sair”. No tempo que ficava, era comum vê-lo conversando e interagindo com todos. Seja nas filas, nas mesas, nos corredores. Esse ethos que a ABU lhe conferiu, da importância da relação e do encontro, ele teimava em não abrir mão. Não era uma estrela distante ou um preletor especial; era bom de papo, acessível e sempre disposto ao encontro; isso mesmo com as vestes litúrgicas que orgulhosamente utilizava, acompanhadas de engraçadas explicações que apresentava para justificá-las.

Lembro desse Robinson que foi um dos primeiros evangélicos a ter uma militância acadêmica nas Ciências Sociais e a interagir sua fé com uma postura crítica e propositiva para a Universidade brasileira. Robinson foi professor, membro dos colegiados superiores, coordenador de pós-graduação stricto sensu e Diretor do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da UFPE. Uma importante referência para alguns professores e professoras que hoje navegam na seara das Ciências Sociais das universidades brasileiras.
Faço parte de uma geração que foi formada ouvindo e lendo o Robinson e que hoje ocupa diferentes posições na carreira acadêmica, a partir das Ciências Sociais. Diante desta morte absurda e prematura, eu me pergunto quais de nós teremos o desprendimento e a dedicação que Robinson teve para conosco? Quais de nós teremos a entrega e o envolvimento para ouvir e compartilhar pensamentos e ideias com as novas gerações? O legado que Robinson nos deixou não pode ser esquecido e vejo este momento como aquele em que os que tiveram o privilégio de ouvir e aprender com Robinson assumam de forma consciente e comprometida a necessidade de experimentarmos um maior e mais efetivo envolvimento. Isso numa época em que as comunicações são mais acessíveis e que o processo de produção e divulgação de textos e ideias ganhou contornos como nunca antes imaginados.

Nós, os muitos que leram, riram e se inspiraram nas ideias e ações de Robinson; nós, que muitas vezes concordamos e outras tantas discordamos de Robinson, não podemos negar o papel de profeta que ele desempenhou no seio da igreja evangélica, não só no Brasil, mas também na América Latina e no mundo por meio de seu envolvimento com o Movimento de Lausanne. Esse papel precisa ter continuidade; há uma tarefa para a qual somos chamados, pois como nos lembra o texto bíblico “não havendo profecia, o povo perece” (Provérbios 29:18). Meu desejo é que diante da estúpida morte de Robinson Cavalcanti possamos presenciar a proliferação de mais e mais profetas que vivam para, como ele defendeu, “criar o novo, o diverso, o plural” (1).

Profetas que se levantarão contra igrejas evangélicas que são “aparelhos ideológicos da ordem capitalista, promotoras de valores burgueses, guardiãs das tradições, instrumentos de controle social, reprodutoras de interesses imperialistas, justificadoras da injustiça e da exploração, repressoras dos dissidentes” (2). Para fazer frente a estas igrejas, Robinson via que “alguma esperança passa, preferencialmente, por obreiros não-remunerados, com treinamento acadêmico nas Ciências Sociais, por teólogos que incorporam a psicologia, a antropologia cultural, por pastores, seminaristas e leigos integrados aos sindicatos, aos partidos, aos movimentos populares comunitários, ecológicos, pacifistas...” (3). Estas foram frentes que Robinson viveu e experimentou intensamente. A solução que ele via, foi o que ele buscou viver, tendo a preocupação de manter viva e constante as oportunidades de influenciar, proclamar e denunciar.
A vida de Robinson representa um grande exemplo. Ele termina o relato de sua peregrinação teológica, escrita em 1990, afirmando que “deixou as coisas de menino” (1 Coríntios 13:11). O mesmo Paulo de 1 Coríntios, ao escrever para os efésios, volta a este tema e fala da necessidade de assumirmos nosso papel na comunidade de fé, de atuarmos pela unidade da Igreja, esperando que alguns sejam mestres. Isso se faz necessário para que, na linguagem d'A Mensagem, de Eugene Peterson (Efésios 4.14-15), entendamos que “chega de ser criança. Não dá para tolerar gente ingênua, bebezinhos que são alvos fáceis dos impostores. Deus quer que cresçamos, conheçamos toda a verdade e a proclamemos em amor — à semelhança de Cristo, em tudo”.

Diante das violentas mortes de Robinson Cavalcanti e de Miriam Cavalcanti, desejo que suas vidas e exemplos sirvam como estopim que desperte em nós uma postura atenta de serviço e de exercício dos dons que Deus nos deu, tendo como referência a unidade da Igreja na busca de uma sociedade justa e igualitária.

Notas:
(1) Cavalcanti, R. A peregrinação teológica de Robinson Cavalcanti. Boletim Teológico, 5 (14), mar/1991, p. 29-37.


(2) Cavalcanti, 1991.

(3) Cavalcanti, 1991.

Alexandre Brasil doutor em sociologia pela USP e coordenador da Rede Fale publicado em Novos Diálogos

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

#ChuvasNoAC Como Ajudar?

Foto: Sérgio Vale/Secom

Por Edmilson Ferreira (Assessoria PMRB)
Ribeirinhos sofrem com a
enchente do Rio Acre (Marcos Vicentti)
Navegar pelo Rio Acre nos dias atuais é testemunhar tempos de sofrimento para as comunidades ribeirinhas desde a foz, nas pequenas vilas de Tahuamanu (departamento de Madre de Dios), no Peru, até a cidade amazonense de Boca do Acre. Da nascente até a desembocadura, são 1.119 quilômetros, e é nos maiores municípios, como Rio Branco, que os estragos provocados pelas enchentes mostram a real dimensão do flagelo vivido pelos milhares de pessoas que escolheram as margens do manancial para morar e trabalhar. Da cidade até a comunidade do Catuaba, grandemente afligida pela cheia, são cerca de vinte quilômetros pelo ramal Belo Jardim – transformado pela força da Natureza em braço do rio por onde ao invés de carro transitam canoas movidas a remo ou motor rabeta. Pelo rio, leva-se 45 minutos descendo e uma hora subindo para fazer esse trajeto.

Enquanto se percorre a zona urbana de Rio Branco, a visão é desoladora: reservatórios de água submersos, torres de energia elétrica ameaçadas, margens desbarrancando e muitas casas ameaçadas. Há regiões em que o rio avançou mais de um quilômetro além de seu leito. A situação parece piorar à medida em que se avança para a área rural: ramais estão debaixo da água, os roçados já apodreceram quase tudo e as perdas, já não há mais dúvida, se avolumam a cada centímetro que o rio sobe. As fruteiras e culturas permanentes vão se perdendo. “Estamos na safra do cajá, fruta que representa uma renda a mais para estes produtores. Eles podem faturar até um salário mínimo neste período mas, com a cheia, deixaram de ganhar esse dinheiro”, observou Jorge Rebolças, diretor da Secretaria de Floresta e Agricultura de Rio Branco (Safra).

No começo da semana a Secretaria divulgou um relatório mostrando que os produtores acumulam prejuízo de cerca de R$ 12,4 milhões com perdas totais nas lavouras de mandioca, banana, grãos e frutas. Das 16 comunidades hoje afetadas, todas estão recebendo ampla ajuda pública em cestas básicas, combustível, transporte, água potável e hipoclorito de sódio para tratamento de água.

No começo da semana a Secretaria de Floresta e Agricultura de Rio Branco divulgou um relatório mostrando que os produtores acumulam prejuízo de cerca de R$ 12,4 milhões (Marcos Vicentti)


No começo da semana a Secretaria
de Floresta e Agricultura de Rio Branco
divulgou um relatório mostrando que os
produtores acumulam prejuízo de cerca
de R$ 12,4 milhões (Marcos Vicentti)
Apesar de ser considerável, o valor será ainda mais elevado quando for levantado o prejuízo com ramal e infraestrutura e perdas mobiliárias. Para fazer o relatório, os técnicos da Safra percorreram as comunidades do Bagaço, Água Preta, Barro Alto, Belo Jardim I, 2 e 3, Benfica Ribeirinho, Catuaba, Extrema, Liberdade, Limoeiro, Moreno Maia, Moreno Maia, Barro Alto e Água Preta conversando com lideranças, moradores antigos e presidentes de associações.

Criação de peixe completamente perdida

Produtor que trabalhava com piscicultura perdeu tudo. É o caso de Raimundo Inácio da Silva, morador da comunidade Extrema, que além das estimadas 5 mil covas de macaxeiras perdidas, acumula sérios prejuízos com a piscicultura. “Cerquei os tanques com tela, mas não teve jeito: a água veio e levou tudo”, lamenta ele, que foi inscrito como beneficiário de cestas básicas para ajudar na sobrevivência da família enquanto dura o flagelo.

Produtores não desanimam

A família do Seu Oliveira, na comunidade Liberdade, trabalha na produção de goma de macaxeira mesmo com seus pertences alagados (Marcos Vicentti)

A família do Seu Oliveira, na comunidade
Liberdade, trabalha na produção de goma de
macaxeira mesmo com seus pertences
alagados (Marcos Vicentti)
Mas o ribeirinho é forte. A família do Seu Oliveira, na comunidade Liberdade trabalha na produção de goma de macaxeira mesmo com seus pertences alagados. A maioria dos 16 filhos do Seu Oliveira está mobilizada em aproveitar ao máximo o macaxeiral que é a base de sustentação econômica da família. Em tempos normais, a produção da Colônia Paraíso, de 107 hectares, chega a cinco toneladas de goma por semana. “Nossa terra é grande e a gente está correndo para não perder a produção”, disse Leonardo Souza Oliveira. Os moradores que permanecem em suas casas (muitas famílias estão abrigadas nas escolas da região) sofrem com o corte de energia elétrica, procedimento adotado pela Eletrobras por questões de segurança. Os moradores pedem que os cortes sejam seletivos, que atinjam casas que tiveram de ser abandonadas e colônias que não tenham agroindústria.

Lideranças locais coordenam distribuição de benefícios

Em Rio Branco, o esforço concentrado dos governos estadual e federal, e da Prefeitura, ao menos diminuem os problemas das famílias que perderam tudo com a cheia –e são os líderes que estão controlando a distribuição de cestas básicas. Cícero Medeiros Brandão, o Pita, fez questão de agradecer o empenho da Prefeitura e do Governo do Estado no trabalho de amenizar o drama dos ribeirinhos. “Todos precisam, mas há agricultores que precisam mais”, disse Pita.

Pita ajudou no atendimento à família de Raimundo Afonso, no Catuaba. Além de receber a cesta básica, Afonso pediu material para curativo. Ele mostrou o pé enfaixado após ferir-se com um pau enquanto operava a motosserra. Com isso, Jorge Rebolças, da Safra, irá pedir que outras secretarias, como a de Saúde, se integrem ao trabalho de atendimento aos ribeirinhos.


Saiba como ajudar as vítimas da enchente

Os dados para depósitos ou transferência são:
Banco do Brasil
Agência: 0071-X
Conta corrente: 100.000-4
CNPJ: 14.346.589/0001-99
Caixa
Agência: 3320 – Estação Experimental
Operação: 006
Conta: 71-7
CGC: 63.608.947/0002-80

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Luto - Dom Robinson Cavalcanti 1944 - 2012


O protestantismo brasileiro está de luto, foi com grande pesar que recebemos a notícia do falecimento do Reverendíssimo Bispo da Diocese Anglicana do Recife Dom Edward Robinson Cavalcanti e de sua esposa Miriam Cavalcanti, ocorrido na noite do dia 26/02/12.

Pequena Biografia:

   Dom Edward ROBINSON de Barros CAVALCANTI, nasceu no Recife-PE, em 21 de Junho de 1944. Aos três anos de idade se mudou para a cidade de União dos Palmares, em Alagoas, onde estudou até o Curso Ginasial, onde seu pai, Edward Lopes Cavalcanti, era empresário e político, e onde participou, como criança e adolescente da Paróquia de Santa Maria Madalena, e da política estudantil. Nessa época passou, ocasionalmente, a freqüentar sessões kardecistas (religião da família do seu pai) e a ser evangelizado por amigos evangélicos.

 Em 1960 foi para o internato do Colégio Evangélico Presbiteriano XV de Novembro, em Garanhuns-PE, fazer o 1º ano do 2º grau. Em 21 de abril daquele ano aceitou a Jesus Cristo como único Senhor e Salvador. Em 1961 regressou ao Recife, para viver com seus avós paternos, e continuar o seus estudos no Colégio Nóbrega, - católicos jesuítas- onde se envolve com estudos teológicos de cunho católico.

 No início de 1962 desvincula-se da Igreja Romana e do Espiritismo Kardecista e concluiu o Curso Clássico e o Curso de Língua e Cultura Hispânica. Em 31 de outubro de 1963 (Dia da Reforma) foi confirmado na Igreja Evangélica Luterana do Brasil.

De 1963 a 1966 cursou Licenciatura em Ciências Sociais na Universidade Católica de Pernambuco (dos Jesuítas), e Língua Inglesa, na Sociedade Cultural Brasil-EEUU. De 1963 a 1967 cursou, simultaneamente, o Bacharelado em Direito na Universidade Federal de Pernambuco, participou da política estudantil, integrando o Diretório Acadêmico“Demócrito de Souza Filho”, da Faculdade de Direito, e do Teatro Universitário. Ingressou na ABU (Aliança Bíblica Universitária).

Fez estágio no Departamento de Ciências Sociais da Universidade da Califórnia, em Los Angeles.Iniciou sua vida como Advogado, Assessor da ABU (10 anos) e professor nos Colégios Agnes Erskine (Presbiteriano), Americano Batista e Sagrado Coração Eucarístico de Jesus. Optou pela carreira universitária, como professor de Ciência Política, na Faculdade de Filosofia do Recife (FAFIRE, das Irmãs de Santa Dorotéia), Seminário Presbiteriano do Norte, Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).

Em 1974-1975 cursou o Mestrado em Ciência Política no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, da Universidade Cândido Mendes, defendendo (como denominada então), a tese: ”Alagoas – a Guarda Nacional e as Origens do Coronelismo”. Foi Evangelista e Candidato ao Ministério na IELB.Participou da fundação (1970) da Fraternidade Teológica Latino-americana (FTL), onde integrou, por sete anos, a sua Comissão Executiva. Integrou, também, a Comissão de Convocação do Congresso de Lausanne (1974), e a Comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial (LCWE), por quatro anos, bem como a Comissão Teológica da Aliança Evangélica Mundial (LCWE), na Unidade “Ética e Sociedade”.

Filiou-se aos Gideões Internacionais e ao Rotary Club. Passou a colaborar como articulista na imprensa escrita. Por 10 anos escreveu a coluna dominical “Evangelismo” no Jornal do Commércio, e, por dois anos a coluna “Panorama Evangélico”, do Diário da Noite. Escreveu, por cinco anos, para a revista Kerygma (São Paulo), e foi o mais antigo colaborador da revista Ultimato.

Foi presidente da ASAS, ONG de apoio aos portadores de HIV/AIDS. Participou da campanha do “Parlamentarismo” e da campanha pelo “Fora Collor”. Por cinco anos, integrou o NIES – Núcleo Interdisciplinar de Estudo sobre a Sexualidade da UFPE, participando de debates sobre o tema em várias instituições, inclusive defendendo, como convidado, a posição ortodoxa da Igreja, na Semana Cultural do “V Congresso Brasileiro de Homossexuais”. Compatibilizando a defesa da Ética Bíblica com a defesa da Cidadania, integrou o grupo de pastores evangélicos que subscreveu o manifesto de apoio a Emenda Marta Suplicy (direitos patrimoniais e previdenciários). Definindo-se como um democrata, nacionalista, federalista, regionalista, municipalista, parlamentarista, defensor de uma Sociedade Solidária e de uma Economia pós-Capitalista, inspirada nos valores judaico-cristãos, participou de um sem número de movimentos em defesa da Justiça Social, sempre encarando tal participação como expressão de um ministério profético.

Ao todo são mais de 1.000 artigos sobre Teologia e Ciência Política, publicados no Brasil e no Exterior. Atuou, também, na rádio e na televisão, em programas religiosos e políticos, passando a dar conferências no país e no exterior, principalmente na área de Ética Social. Como convidado do Governo, pregou no Culto Semanal dos Deputados, na Capela do Parlamento da Suécia.


Foi candidato a Deputado Estadual, em 1982, pela oposição ao Regime Militar (e membro do Diretório Municipal do PMDB do Recife), e participou das campanhas pela Anistia e pelas ‘Diretas Já’.
Escreveu os livros:

01) Cristo na Universidade Brasileira;
02) O Cristão, Esse Chato;
03) Uma Bênção Chamada Sexo;
04) As Origens do Coronelismo;
05) Igreja – Agência de Transformação Histórica;
06) Igreja – Comunidade da Liberdade;
07) Libertação e Sexualidade;
08) Cristianismo e Política;
09) A Utopia Possível;
10) A Igreja, o País e o Mundo;
11) Igreja – Multidão Madura;
12) Reforçando as Trincheiras;
13) Anglicanismo – Identidade, Relevância, Desafios

O legado e a relevância de Dom Robinson Cavalcanti para igreja Brasileira



LUTO! A Igreja de Cristo, que está no Brasil, perdeu um de seus maiores profetas: Robinson Cavalcanti, bispo anglicano, um dos maiores propagadores da Teologia da Missão Integral, um dos pioneiros na conscientização sobre a ação pública da Igreja de Cristo.

Todos, principalmente, os que militamos por uma Igreja relevante para a sociedade, temos uma dívida para com Robinson Cavalcanti, e lamentamos profundamente a perda dele e de sua esposa Miriam, também, vítima da violência que ceifou a vida desse representante maior do Evangelho de Cristo, na América Latina. (Escreveu Ariovaldo Ramos em seu Twitter) 

Certa vez Robinson Cavalcanti disse: “A vida passa rápido. Não é sua duração o mais importante, mas a capacidade de transformá-la em algo significativo”

Dom Robinson Cavalcanti ficará para sempre na história da protestantismo brasileiro, Cavalcanti através de sua bibliografia nos deixou um legado e através de sua história de vida nos serve de inspiração. 

Com Edward Robinson Cavalcanti que comecei a aprende o caráter social e político do cristianismo, foi e é como gente como Robinson Cavalcanti, John Stott e René Padilla (teólogos) que aprendi e aprendo essa "contracultura" que tem como marca buscar primeiro reino e a sua justiça de Deus. 

Foi-se Dom Robinson Cavalcanti, homem ilustre, pensador refinado, ativista e militante incansável na causa do Reino, um servo fiel de caráter ilibado.
Seu nome já ficou marcado na galeria dos heróis da fé do Brasil e da América Latina. 

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Pastor de mega-igreja escolhe passar férias como mendigo para "entender e sentir a dor" dos sem-teto


Podendo escolher entre tirar uns dias pra ficar com a família ou participar de alguma conferência eclesiástica, o pastor Thomas Keinath, da mega igreja Calvary Temple, passou uma semana de suas férias vivendo entre os sem-teto e mendigos de Paterson, cidade vizinha de Wayne.

Sua congregação, que fica no bairro rico de Wayne, estado de New Jersey, e reúne mais de 2000 pessoas a cada domingo, ficou surpresa quando ele anunciou que entraria "de cabeça" na experiência de abrir mão do púlpito para passar sete dias e sete noites nas ruas como um “sem teto”.

Thomas Keinath se aquecendo entre os seus amigos "sem teto"

O pastor preparando sua refeição

No período do dia, ele podia ser visto vagando pela cidade, parecendo apenas mais um homem sem ter para onde ir. À noite, ele se juntava a outros moradores das ruas, fazendo fogo em tonéis para manter-se aquecido enquanto as temperaturas caíam drasticamente. Várias vezes dormiu sob um viaduto rodeado de lixo . 


Visão panorâmica do Calvary Temple

Keinath escreveu “mini-biografias”, das cerca de 50 pessoas que conheceu, numa iniciativa de não esquecer-se mais delas e de suas histórias de vida. Para o pastor, a explicação sobre o porque decidiu ter essa experiência é simples: “Eu precisava entender o que eles estavam passando, eu precisava sentir a sua dor. Como eu poderia levar ajuda ou cura para as ruas se eu não sabia quais são as necessidades dessas pessoas?”


Durante a “semana de férias” em que viveu na rua, o reverendo Keinathteve a oportunidade de pregar e orar pelos desabrigados e famintos, chegando a ter cerca de 75 ouvintes nas reuniões que promoveu nas praças. E foi nessa experiência, que ele aprendeu duras lições sobre o que as pessoas realmente pensam sobre as igrejas. “Não havia uma pessoa sequer, seja sem teto ou toxicodependente, que abertamente rejeitou a esperança que eu estava tentando oferecer”, disse.


Desde que voltou ao púlpito da Calvary, o pastor passou exortar a sua congregação e as outras da cidade a não olhar mais para os sem teto com uma atitude do tipo “tome um pouco de dinheiro ou comida e não me perturbe mais”. Seu coração audacioso, fez com que ele organizasse em janeiro deste ano de 2012 uma vigília de oração com outros pastores no parque Barbour Park, em Paterson. O tema foi “reconstruindo os muros e restaurando nossas ruas.” E por causa dessa experiência, as vans da igreja passaram a buscar e levar os sem-teto que desejam participar dos cultos dominicais. Mas isso é apenas o começo do que o pastor está chamando de “solução a longo prazo”, que inclui a construção de um centro patrocinado pela igreja que pretende “abrigar os sem-teto ao mesmo tempo ajudá-los a recuperar-se, inclusive dos vícios em álcool ou drogas”.

Rev.Thomas Keinath - antes e depois

“As pessoas têm de saber que vocês [cristãos] realmente se preocupam com elas. Isso é parte do que somos como crentes no Senhor. Minha identificação com eles derrubou muitas barreiras”, disse Keinath, que já pregou em 21 nações e entende esse como seu maior desafio.

Segundo ele, que afirma ter apoio total dos membros, a Calvary está seguindo o exemplo dado pelos cristãos de Cesaréia, quando, no início do quarto século, a cidade foi atingida por uma praga. Enquanto todo mundo estava fugindo da cidade, os cristãos ficaram para cuidar dos doentes e moribundos. Na ocasião, o historiador da igreja Eusébio escreveu: “Durante todo o dia, alguns cristãos cuidam dos moribundos e enterram os mortos. Há um número incontável de pessoas pelas ruas que não tem quem cuide delas. Enquanto isso, outros cristãos se encarregaram de alimentar os famintos”.


Empático com a causa dos desabrigados, reverendo Thomas Keinath profetiza: “Eu sinto”, como se Deus estivesse dizendo: Voltem para suas raízes. Volte para onde as pessoas estão sofrendo hoje”. 

Vídeo com fotos da experiência de Thomas Keinath:


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Heloísa Helena e a legalização do aborto



A opinião mais sensata no meio político, Heloísa Helena ex-senadora PSOL, defende argumentos consistentes contra a legalização, vale a pena assistir!

Tentados pelos demônios, servidos pelos anjos!


Por Robinson Cavalcanti

Nesse início da Quaresma – período importante do Ano Cristão – somos chamados à atenção para os momentos dramáticos que antecedem o ministério messiânico de Jesus: os quarenta dias no deserto, onde foi tentado por satanás, para, ao fim, vitorioso, ser ministrado pelos anjos.
A vida peregrina das pessoas é alternada de oásis e de desertos. Jesus não foi para o deserto por conta própria, nem foi algo ao sabor das circunstâncias, mas para ali foi levado pelo próprio Espírito Santo. Necessitamos de oásis para não perecer. Necessitamos de desertos para amadurecer. Em ambos podemos receber recados de Deus.
No deserto estava a representação das hostes espirituais da maldade, na pessoa de satanás como tentador, e das hostes espirituais da bondade, nas pessoas dos anjos que o serviram, alimentando-o e dessedentando-o. Anjos e demônios estão presentes nos textos das Sagradas Escrituras do Gênesis ao Apocalipse. Mas que dizer deles na vida da sociedade, da Igreja e das pessoas?
Sabemos que os demônios tentam, induzem, possuem, assessoram as instituições e as atitudes de iniquidade, sem eliminar a responsabilidade e a culpa de decisões morais humanas. Sabemos que anjos são mensageiros, guardiões e ministradores da parte de Deus para o seu povo. Sua realidade, muito clara no Judaísmo, no Cristianismo e no Islã, também pode ser encontrada em outras tradições religiosas não-abraâmicas.
O racionalismo pós-iluminista secularista ocidental moderno e contemporâneo tem negado tal realidade, como superstição ou mitologia. Um pensador afirmou que essa foi a jogada mais brilhante de satanás: convencer o mundo de que ele não existe, para poder atuar livremente em seu ministério de desumanização e opressão. O Positivismo e o Marxismo foram instrumentos ideológicos da promoção dessa negação dos seres angélicos caídos e não caídos. E a Igreja?
A Igreja tem se dividido entre os liberais que adotaram o cetismo – negação do pensamento secular, pentecostais e neo(pseudo)pentecostais que, em alguns casos, têm ido da supervalorização do poder satânico e a redução do poder da cruz, com seus “encostos” e “sessões de descarrego”, vendo demônios por toda a parte, fugindo da culpa pessoal quanto ao mal, aos assentos de templos reservados para os anjos bons, em uma espécie de “rotinização angélica”. Mas, e as Igrejas históricas?
As Igrejas Históricas, no geral, confessam nos seus livros a existência de anjos e demônios, mas vivem a prática do cotidiano como se ambos não existissem, ou fossem aposentados. Ou seja, a prática e a pastoral são a negação do que se afirma ensinar como verdade.
Certa vez um jovem pastor africano, educado em Seminário Teológico liberal na França, quando de regresso ao seu país, foi chamado a exorcizar uma parenta que estava (literalmente) “com o diabo no couro”. Em pânico, disse para o demônio: “eu não posso lhe expulsar, porque aprendi que você não existe…”.
Como anglicano, integro um ramo histórico da Igreja. Entre nós é escassa a presença de exageros afirmativos quanto a anjos e demônios, mas, em algumas Províncias e Dioceses, não é escassa a presença dos céticos-racionalistas. Tenho preocupação, quanto à nossa Diocese e as coirmãs históricas ao nosso redor pela quase total ausência de referência aos ministérios angélicos e satânicos em sermões ou reflexões teológicas.
Quando o Dr. Billy Graham, na década de 1970, escreveu o seu livro sobre os anjos, fazia meio século que ninguém tinha tratado do tema nos Estados Unidos, onde, nos dias de hoje, se falar em anjos e demônios é tido como algo exótico ou uma gafe.
Vejo o tempo da Quaresma – da Quarta-Feira de Cinzas ao Domingo da Ressurreição – como um período de aprofundamento da fé, pela oração, o jejum e a caridade, como nos tem ensinado a tradição da Igreja.
Olhando para o episódio de Jesus no deserto e para os desertos existenciais, espirituais e teológicos, gostaria de fazer um chamamento a todos para uma renovada consciência do angélico e do satânico na nossa vida e missão.
Os anjos podem acampar ao redor de nós. E satanás (creiam-me) está “solto na buraqueira”.
É bom abrir os olhos, e, pelos olhos da fé, enxergar além do material.
Que o Senhor nos abençoe!

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Depois do Carnaval


Por Marina Silva

Chegamos, finalmente, a mais um feriadão de Carnaval, para depois, segundo dizem, tudo começar a acontecer no Brasil.
Geralmente, em nossa viciada cultura da procrastinação, do “deixa para depois”, aproveitamos as datas festivas e comemorativas como desculpa para continuarmos protelando tudo aquilo que nos incomoda, ou que é mais difícil de fazermos acontecer.
Esperamos passar a Semana Santa, o Natal, o Ano-Novo e as férias de verão até chegarmos na convincente constatação de que, em nosso país, as coisas só começam a acontecer depois do Carnaval.
O drama desse “avestruzamento” coletivo é que a realidade dos problemas que precisam ser enfrentados -e que, a cada ano, acabam sendo deixados para depois do Carnaval- não pode ser indefinidamente armazenada como se fosse uma fantasia de um desfile malsucedido, que nunca mais queremos ver repetir-se.
Esses problemas aparecem e reaparecem nos salões e nas avenidas do cotidiano de nossa realidade política e social na forma de muitas faltas -por exemplo, uma adequada reforma da segurança pública que dê dignidade e segurança não apenas para quem precisa da polícia mas também para quem faz a polícia.
Manifesta-se ainda no ensaio do terceiro round do Código Florestal na Câmara dos Deputados, onde já se anuncia uma espécie de “telecatch” entre o projeto aprovado no Senado e o projeto “fake” radical ruralista, com o intuito de aparentar divergências entre os ruralistas e a base governista.
São muitos os que esperam esse “para depois” passar para serem vistos e respeitados: os atingidos pelos desastres ambientais, os banidos do Pinheirinho (em São José dos Campos, cidade no interior do Estado de São Paulo), que reclamam em nós, e não de nós, uma solução para o vergonhoso êxodo a que são submetidos, as vidas assoladas compulsoriamente pelo crack a reclamarem do Estado mais ação preventiva do que repressão.
Todos precisamos de descanso, de refrigério, de tempo para encerrar ciclos. Mas o Estado, os governantes, as autoridades políticas que recebem da sociedade o nobre mandato de zelar por seu bem-estar, pelo desenvolvimento do país, não têm direito ao descanso do “deixa para depois”.
O país, em muitos aspectos, vive um momento excepcional de crescimento, de expansão. Entretanto nós não podemos nos enganar. Não queremos ser como um vagão puxado pelas locomotivas de outras nações.
O Brasil que ainda patina com graves problemas estruturais, que precisa melhorar tanto, por exemplo, na educação, não pode perder tempo.


Na Folha de S. Paulo via Pavablog

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Democratizar a democracia


Por Marina Silva


Neste ano, pela terceira vez, fui convidada para participar da Campus Party, agora para falar sobre “web a serviço da democracia”. Por um problema de saúde, não pude estar presente, mas aproveito este espaço para expor minhas ideias de não especialista sobre o assunto.
Para começar, quem é o protagonista da internet? Essa mídia que revolucionou a comunicação em escala planetária é fruto de muitos “pais” visionários de vários campos de ação, de invenção e de conhecimento, chegando ao desenho e também aos desafios que tem hoje. O que ninguém conseguiu foi prever a incrível dimensão atingida pela internet.
O que hoje não está na rede parece nem fazer parte da realidade. Tudo precisa ter um pé -quando não todo o corpo- na internet. E ter acesso a ela hoje passa a ser direito, a ter relação com cidadania, a ser uma nova forma de alfabetização e de inclusão.
Toda essa força e velocidade de comunicação e informação, impensável há algumas décadas, parece ter vida própria, o que resulta em gigantesca dinâmica de transformação cultural. É uma mídia coletiva e anárquica, que soma esforços e inventividade de um sem número de pessoas -a maioria delas anônima.
A internet já condenou ao passado tanta coisa que, antes mesmo de cientistas políticos e sociais analisarem seus efeitos, o cenário muda. Mas, afinal, ela continua sendo uma ferramenta que, como tal, não pode ser, “a priori”, demonizada nem sacralizada nem mitificada como se bastando em si mesma. E ainda que constituída como poderosa teia, do tipo “anelosimus”, de informação e relacionamentos, não pode prescindir das diferentes bases socioculturais que formam sua superfície de sustentação.
A questão é: que mudanças ela traz nas estruturas e nos valores já cristalizados nas sociedades, a ponto de confrontá-los para que daí surjam novas qualidades? Creio que a contribuição da internet para a democracia dar-se-á como uma espécie de desdobramento da democracia em si mesma, ou seja, da democratização da própria democracia.
A internet tem permitido, em nosso conturbado tempo, o advento de novo sujeito político, o que não aceita mais o lugar de mero espectador da política, e luta para ampliar sua ação prospectando novos aplicativos para a democracia.
Tenho chamado esse processo de democracia prospectiva, na qual não são os sujeitos ungidos, nos mais variados setores, que têm a prerrogativa de propor e criar novos aplicativos para a democracia. A internet permite que, em todo o mundo, bilhões de pessoas busquem o seu espaço de expressão autônoma, ampliando o alcance da democracia. Quem sabe dessa prospecção não chegaremos a novos patamares para a qualidade de vida das pessoas e da política?
Marina Silva na Folha de SP via Pavablog

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Os canalhas nos ensinam mais


Por Arnaldo Jabor

Nunca vimos uma coisa assim. Ao menos, eu nunca vi. A herança maldita da política de sujas alianças que Lula nos deixou criou uma maré vermelha de horrores. Qualquer gaveta que se abra, qualquer tampa de lata de lixo levantada faz saltar um novo escândalo da pesada. Parece não haver mais inocentes em Brasília e nos currais do País todo. As roubalheiras não são mais segredos de gabinetes ou de cafezinhos. As chantagens são abertas, na cara, na marra, chegando ao insulto machista contra a presidente, desafiada em público. Um diz que é forte como uma pirâmide, outro que só sai a tiro, outro diz que ela não tem coragem de demiti-lo, outro que a ama, outro que a odeia. Canalhas se escandalizam se um técnico for indicado para um cargo técnico. Chego a ver nos corruptos um leve sorriso de prazer, a volúpia do mal assumido, uma ponta de orgulho por seus crimes seculares, como se zelassem por uma tradição brasileira.
Temos a impressão de que está em marcha uma clara “revolução dentro da corrupção”, um deslavado processo com o fito explícito de nos acostumar ao horror, como um fato inevitável. Parece que querem nos convencer de que nosso destino histórico é a maçaroca informe de um grande maranhão eterno. A mentira virou verdade? Diante dos vídeos e telefonemas gravados, os acusados batem no peito e berram: “É mentira!” Mas, o que é a mentira? A verdade são os crimes evidentes que a PF e a mídia descobrem ou os desmentidos dos que os cometeram? Não há mais respeito, não digo pela verdade; não há respeito nem mesmo pela mentira.
Mas, pensando bem, pode ser que esta grande onda de assaltos à Republica seja o primeiro sinal de saúde, pode ser que esta pletora de vícios seja o início de uma maior consciência critica. E isso é bom. Estamos descobrindo que temos de pensar a partir da insânia brasileira e não de um sonho de razão, de um desejo de harmonia que nunca chega.
Avante, racionalistas em pânico, honestos humilhados, esperançosos ofendidos! Esta depressão pode ser boa para nos despertar da letargia de 400 anos. O que há de bom nesta bosta toda?
Nunca nossos vícios ficaram tão explícitos! Aprendemos a dura verdade neste rio sem foz, onde as fezes se acumulam sem escoamento. Finalmente, nossa crise endêmica está em cima da mesa de dissecação, aberta ao meio como uma galinha. Vemos que o País progride de lado, como um caranguejo mole das praias nordestinas. Meu Deus, que prodigiosa fartura de novidades sórdidas estamos conhecendo, fecundas como um adubo sagrado, tão belas quanto nossas matas, cachoeiras e flores. É um esplendoroso universo de fatos, de gestos, de caras. Como mentem arrogantemente mal! Que ostentações de pureza, candor, para encobrir a impudicícia, o despudor, a mão grande nas cumbucas, os esgotos da alma.
Ai, Jesus, que emocionantes os súbitos aumentos de patrimônio, declarações de renda falsas, carrões, iates, piscinas em forma de vaginas, açougues fantasmas, cheques podres, recibos laranjas de analfabetos desdentados em fazendas imaginárias.
Que delícia, que doutorado sobre nós mesmos!… Assistimos em suspense ao dia a dia dos ladrões na caça. Como é emocionante a vida das quadrilhas políticas, seus altos e baixos – ou o triunfo da grana enfiada nas meias e cuecas ou o medo dos flagrantes que fazem o uísque cair mal no Piantella diante das evidências de crime, o medo que provoca barrigas murmurantes, diarreias secretas, flatulências fétidas no Senado, vômitos nos bigodes, galinhas mortas na encruzilhada, as brochadas em motéis, tudo compondo o panorama das obras públicas: pontes para o nada, viadutos banguelas, estradas leprosas, hospitais cancerosos, orgasmos entre empreiteiras e políticos.
Parece que existem dois Brasis: um Brasil roído por ratos políticos e um outro Brasil povoado de anjos e “puros”. E o fascinante é que são os mesmos homens. O povo está diante de um milenar problema fisiológico (ups!) – isto é, filosófico: o que é a verdade?
Se a verdade aparecesse em sua plenitude, nossas instituições cairiam ao chão. Mas, tudo está ficando tão claro, tão insuportável que temos de correr esse risco, temos de contemplar a mecânica da escrotidão, na esperança de mudar o País.
Já sabemos que a corrupção não é um “desvio” da norma, não é um pecado ou crime – é a norma mesmo, entranhada nos códigos, nas línguas, nas almas. Vivemos nossa diplomação na cultura da sacanagem.
Já sabemos muito, já nos entrou na cabeça que o Estado patrimonialista, inchado, burocrático é que nos devora a vida. Durante quatro séculos, fomos carcomidos por capitanias, labirintos, autarquias. Já sabemos que enquanto não desatracarmos os corpos públicos e privados, que enquanto não acabarem as emendas ao orçamento, as regras eleitorais vigentes, nada vai se resolver. Enquanto houver 25 mil cargos de confiança, haverá canalhas, enquanto houver Estatais com caixa-preta, haverá canalhas, enquanto houver subsídios a fundo perdido, haverá canalhas. Com esse Código Penal, com essa estrutura judiciária, nunca haverá progresso.
Já sabemos que mais de R$ 5 bilhões por ano são pilhados das escolas, hospitais, estradas. Não adianta punir meia dúzia. A cada punição, outros nascerão mais fortes, como bactérias resistentes a antigas penicilinas. Temos de desinfetar seus ninhos, suas chocadeiras.
Descobrimos que os canalhas são mais didáticos que os honestos. O canalha ensina mais. Os canalhas são a base da nacionalidade! Eles nos ensinam que a esperança tem de ser extirpada como um furúnculo maligno e que, pelo escracho, entenderemos a beleza do que poderíamos ser!
Temos tido uma psicanálise para o povo, um show de verdades pelo chorrilho de negaças, de “nuncas”, de “jamais”, de cínicos sorrisos e lágrimas de crocodilo. Nunca aprendemos tanto de cabeça para baixo. Céus, por isso é que sou otimista! Ânimo, meu povo! O Brasil está evoluindo em marcha à ré!
Arnaldo Jabor no Estadão