terça-feira, 13 de março de 2012

Conflito de símbolos e mandato cultural


Por Robinson Cavalcanti

O panorama religioso do mundo mudou profundamente nas últimas décadas, após o fim da Guerra Fria: “mundo livre”, ou Civilização Ocidental e Cristã vs. os “inimigos” do Império Soviético, em um esquema maniqueísta. Há sinais de vitalidade religiosa em áreas do antigo regime marxista, e sinais de declínio religioso em áreas da antiga “Civilização Ocidental”, cada vez mais excristã, pós-cristã e anticristã. Há bolsões de repressão religiosa no que resta de países comunistas, mas o fato novo – e preocupante – é o florescimento de partidos e movimentos hinduístas, budistas e islâmicos extremistas, advogando o fim da separação entre religião e Estado e a afirmação de suas nacionalidades pela vinculação a religião, e consequente discriminação contra as demais, notadamente o cristianismo. 

Uma revista brasileira de circulação nacional, em recente reportagem, mostrou a crescente perseguição aos cristãos em amplas áreas do globo. A Inglaterra – ex-celeiro de missionários – é o epicentro do Secularismo anticristão no Ocidente, que vai rapidamente se espalhando. É considerado normal para um judeu ortodoxo usar um solidéu, para uma islâmica usar um véu, para o sikh usar um turbante, mas apenas o uso da cruz vai sendo banido, tido como “ofensivo” para a sociedade secularista (multiculturalismo + politicamente correto + agenda GLSBT). A periodização histórica em “antes de Cristo” e o “Anno Domini” vai sendo substituída pelo antes e depois da “Era Comum”. Ministérios estudantis, como a ABU (IVF), vão sendo restringidos, por apresentarem apenas um caminho de salvação e um modo de se viver a sexualidade. Nos Estados Unidos se proíbe a Tábua da Lei em Tribunais, ou o uso da saudação “Feliz Natal” (deve ser apenas “boas festas”), e os símbolos cristãos (cruz, peixe, alfa e ômega, cordeiro) vão sendo varridos em sua visibilidade dos espaços públicos. Proibidos, também, o uso do argumento religioso na esfera pública, os cristãos ocidentais vão sendo empurrados para um gueto, com sua fé restrita às suas consciências, seus lares e seus templos, sem relevância histórica ou influência social.

O ódio secularista se dirige, prioritariamente, ao monoteísmo de revelação, por afirmar conceitos e preceitos morais, tidos como preconceitos, por uma sociedade relativista, amoral e hedonista. Enquanto isso o Islã, financiado pelos petrodólares, vai construindo enormes e visíveis mesquitas no Ocidente para onde emigraram, e em países periféricos onde atuam, com a torre de seus minaretes como lugares mais altos, em uma afirmação de influência e de poder. 

O conflito político-ideológico-econômico vai sendo substituído por um conflito de símbolos religiosos como expressão mais tangível do que já foi denominado de “choque de civilizações”, porque por trás dos símbolos há um conteúdo de valores e estilos de vida, com profundos desdobramentos para os povos. Enquanto isso, nós cristãos, somos ensinados que a humanidade tem um mandato cultural que foi maculado com o Pecado Original, e que é dever da Igreja recuperá-lo segundo o ideal do Criador, ao promover os valores do Reino de Deus, o Direito Natural e o Bem-Comum, como mensageiros, missionários, evangelistas, embaixadores, sal e luz, não de uma Cristandade político-militar ou teocrática, mas afirmadora da soberania de Deus sobre a História, e o reinado do singular Jesus Cristo sobre as nações, o que implica em uma evangelização das culturas, afirmadas, mas chamadas à transformação segundo o projeto do Senhor e o caráter de Cristo. Todas elas estarão um dia diante do Cordeiro. O próximo momento da História será, sem dúvida, um conflito também, e muito, de símbolos (hoje já proibidos ou restringidos).

O bispo anglicano Julian Dobbs tem sugerido a necessidade urgente e imperiosa de uma ampla campanha para que o povo cristão use uma cruz ou outro símbolo cristão como adereços (cordões, lapelas), e os clérigos o seu colarinho ou outra expressão exterior da sua condição, como forma de identificação, afirmação, resistência e testemunho. Nesse sentido, o protestantismo latinoamericano, com sua radical iconoclastia, rejeitando toda beleza, arte plástica e símbolos na adoração (arquitetura e decoração de templos, vestes clericais, etc.), associada, equivocadamente, com idolatria ou com a Igreja Romana, dá um tiro no pé, como “inocente útil” dos adversários, despreparada e fazendo gol contra. 

O secularismo que quer varrer nossos símbolos, para varrer nossa presença e influência, e o Islã, que quer afirmar os deles, e sua hegemonia mundial, agradecem. Ou o protestantismo latinoamericano (e brasileiro) iconoclasta, presentista e informalista, permite que Deus o cure dessa enfermidade espiritual imatura, indo além do discurso ou do show, resgatando uma rica herança, patrimônio de toda a Cristandade, ou vamos ter uma ausência de protagonismo, ou um protagonismo negativo no próximo capítulo da História da Civilização e da História da Igreja. 

A Bíblia, a História, a Antropologia Cultural e a Psicologia Social ajudariam esse salto de qualidade.

Originalmente em DAR

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