terça-feira, 20 de março de 2012

A lição das borboletas



Por Fábio Bauab

As borboletas sempre despertaram a minha atenção. Admirava a beleza de suas cores, a geometria dos desenhos nas asas e a sua misteriosa origem. Sim, quando criança eu não entendia muito bem de onde elas vinham. Confesso que naquela época eu também tinha certo receio ao vê-las voando na minha direção. Até hoje não entendo muito bem as razões daquele medo, mas a verdade é que medo e fascínio caminhavam juntos. Sim, como elas despertavam a minha curiosidade.

O fascínio aumentou quando aprendi que as borboletas são, na verdade, um segundo momento (estágio) na vida das lagartas. Achei a descoberta fantástica. A lagarta, quando chega o tempo certo, recolhe-se em seu casulo e, no isolamento total, passa pelo processo que a transforma em uma bela borboleta cuja beleza de suas cores ofusca o passado de sua existência não tão bem bela. Sim, as borboletas sempre despertaram a minha atenção. 


Hoje, tenho para mim que o ser humano não é tão diferente das borboletas. Nós também estamos em um processo contínuo de metamorfose ou evolução, como diria o filósofo Huberto Rohden. Na verdade, penso que esta é a nossa sublime vocação: pensar e repensar quem de fato somos. A estagnação nos mantém na brutalidade existencial. É necessário buscar, continuamente, sermos transformados pela renovação da nossa inteligência, como aconselhou o apóstolo Paulo à igreja em Roma (Rm 12:2a).


Paulo estava certo, somente a renovação da inteligência (nous) promove a transformação (metamorfose) do ser. Neste ponto, a mensagem de Paulo e a essência da mensagem sobre arrependimento proclamada por Jesus se alinham perfeitamente. Arrepender-se é promover uma renovação da mente/inteligência.


Acredito piamente que os maiores obstáculos para alcançarmos esta vocação estão dentro de nós mesmos. Temos medo de abandonar nossas convicções e certezas, pois elas nos fazem sentir seguros. A comodidade e o conforto nos impedem de ver a nossa própria existência ganhar um novo colorido, um novo significado, uma nova beleza. Enfim, Crescemos, mas não evoluímos. Envelhecemos, mas não alcançamos maturidade existencial. Adquirimos conhecimento, mas não chegamos à verdadeira sabedoria.


Concluo esta reflexão com um pensamento de Fernando Pessoa: “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.


Acho que é por isto que as borboletas sempre chamaram a minha atenção. Sinceramente, as borboletas ainda me fascinam.

Fraternalmente, Fábio Bauab.

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