Por Marina Silva
Neste ano, pela terceira vez, fui convidada para participar da Campus Party, agora para falar sobre “web a serviço da democracia”. Por um problema de saúde, não pude estar presente, mas aproveito este espaço para expor minhas ideias de não especialista sobre o assunto.
Para começar, quem é o protagonista da internet? Essa mídia que revolucionou a comunicação em escala planetária é fruto de muitos “pais” visionários de vários campos de ação, de invenção e de conhecimento, chegando ao desenho e também aos desafios que tem hoje. O que ninguém conseguiu foi prever a incrível dimensão atingida pela internet.
O que hoje não está na rede parece nem fazer parte da realidade. Tudo precisa ter um pé -quando não todo o corpo- na internet. E ter acesso a ela hoje passa a ser direito, a ter relação com cidadania, a ser uma nova forma de alfabetização e de inclusão.
Toda essa força e velocidade de comunicação e informação, impensável há algumas décadas, parece ter vida própria, o que resulta em gigantesca dinâmica de transformação cultural. É uma mídia coletiva e anárquica, que soma esforços e inventividade de um sem número de pessoas -a maioria delas anônima.
A internet já condenou ao passado tanta coisa que, antes mesmo de cientistas políticos e sociais analisarem seus efeitos, o cenário muda. Mas, afinal, ela continua sendo uma ferramenta que, como tal, não pode ser, “a priori”, demonizada nem sacralizada nem mitificada como se bastando em si mesma. E ainda que constituída como poderosa teia, do tipo “anelosimus”, de informação e relacionamentos, não pode prescindir das diferentes bases socioculturais que formam sua superfície de sustentação.
A questão é: que mudanças ela traz nas estruturas e nos valores já cristalizados nas sociedades, a ponto de confrontá-los para que daí surjam novas qualidades? Creio que a contribuição da internet para a democracia dar-se-á como uma espécie de desdobramento da democracia em si mesma, ou seja, da democratização da própria democracia.
A internet tem permitido, em nosso conturbado tempo, o advento de novo sujeito político, o que não aceita mais o lugar de mero espectador da política, e luta para ampliar sua ação prospectando novos aplicativos para a democracia.
Tenho chamado esse processo de democracia prospectiva, na qual não são os sujeitos ungidos, nos mais variados setores, que têm a prerrogativa de propor e criar novos aplicativos para a democracia. A internet permite que, em todo o mundo, bilhões de pessoas busquem o seu espaço de expressão autônoma, ampliando o alcance da democracia. Quem sabe dessa prospecção não chegaremos a novos patamares para a qualidade de vida das pessoas e da política?
Marina Silva na Folha de SP via Pavablog
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